Aqueles dias atrás

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E quando amanhecer eu quero estar ao seu lado
E as lembranças não tão distantes voltam
Relembram-me daqueles dias e noites
A vida sem complicações ou injustiças
Dias de alegrias incessantes e simplicidade
Dias em que risos e sorrisos infantis
estampados em nossos rostos permaneciam
Dias de desconcentraçoes
Pores-do-sol emocionantes e transitantes
que acompanhávamos em espírito
E então em sequência surgiam as noites
Despertando e sobrepondo o nosso outro lado
Um lado não tão inocente e ingênuo
A inconsequencia de nossos atos
Torna-se dominante perturbadoramente
Porém a felicidade não nos deixa
E vem então a alta madrugada
E então vem o descobrimento viciante
Estimula-nos ao máximo com novos prazeres
E vem a calmaria some-se a libido
Doces sonhos sucediam
Com a certeza de que mais um dia estava por vir
Mas não estas noites frias
Que embebedam minhas tristezas
E esfumaçam minha volta
E nem dormir me acalma
A perturbadora realidade invade meu inconsciente
E me lembra da cama vazia
E quando amanhecer eu quero estar ao seu lado
Mas eu sei que não vou

Sem direção

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Eu quero me perder. Algo estranho de se desejar, admito. Mas prefiro me perder do que continuar a tentar racionalizar algo que deixou de ser lógico para mim. Algo que nem sequer sei quando começou e que não me deixa em paz.
Algo que me transforma e faz com que eu vomite palavras de frustração incessantemente em quem está ao meu lado.
Algo que faz questão de esfregar em minha cara uma dura realidade que eu nem sei mais se é distorcida ou não.
Algo que brutalmente arranca de mim todas as lágrimas, pois põe à flor da pele todas as minhas tristezas e incertezas simultaneamente.
Algo que desfigura minha face e quebra a minha máscara dia após dia.
Eu quero me perder logo, é o único jeito que me resta para quem sabe enfim me achar.

(sem título)

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É tão fácil fechar os olhos para o problema dos outros. Mesmo diante de uma súplica silenciosa e contínua.

Desisto do ser humano. Mas espero que só temporariamente.

Poder me soltar

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Poder fugir. Não fugir, isto é errado. Poder encarar e perceber que isto não me faz mais bem. Perceber que isto chega a me prejudicar. Poder correr não de medo, mas com vontade de conhecer novos horizontes. Poder estar satisfeita novamente sem precisar de um motivo claro para isso. Poder ser feliz simplesmente porque sou, sem precisar que algo bom me aconteça para me trazer esse sentimento temporariamente. Poder acordar todo dia com um sorriso estampado no rosto, sabendo que como todos os anteriores, será ótimo, independente do que aconteça. Poder ter prazer em respirar. Alegrar-me com os dias de frio e de calor. Rir à toa. Poder ser independente. Poder me sentir viva. Viver!
Tudo o que eu quero é voltar a viver como antes. Sem precisar de ninguém para isso.
Tudo o que eu quero é me libertar.


Ela

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Quando ele se foi, deixou como lembrança as lágrimas que escorriam pelo rosto vermelho e quente dela. Eram tantas que a visão já estava turva e a boca sentia o gosto salgado. Ela sequer tinha forças para levantar as mãos e enxugar a face com as mangas do casaco que eram compridas demais. Ela ficou lá, parada, enquanto ele lhe dava as costas e ia se distanciando sem pressa nenhuma, afinal, ele já tinha feito o que devia fazer. E ele estava cada vez mais e mais longe, até que sumiu entre as pessoas. E ela ainda não conseguia se mexer. O aperto da garganta não cessava. O choro silencioso dela não era ouvido por ninguém. E se fosse que diferença faria?
E ela sentiu-se vazia. Não sabia viver assim, sozinha. Tudo o que lhe enchia a alma de alegria havia desaparecido e sido substituído por todo aquele desespero avassalador em um tempo mínimo. Todas as suas esperanças, promessas, planos... Sumiram. E o vazio no peito parecia aumentar para todo o seu corpo rápida e cuidadosamente, preenchendo-a por inteiro sem piedade nenhuma.
Ela subitamente correu. Correu como nunca antes na vida. Correu sem direção, sem sentido. Não sabia para onde ir. Não tinha para onde ir. Correu até não agüentar mais. Correu até não saber aonde estava. E parou. Caiu de joelhos e se deixou mergulhar naquilo tudo que a corroía. A verdade é que ela não sabia mais viver. Ela não existia sem ele.

Entrelinhas

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E eu proclamo incessantemente meus sentimentos através de meus garranchos em papéis aleatórios. Talvez para alguns pareça ser o mesmo blábláblá de sempre, mas não. A cada dia, a cada instante, eu sinto diferentemente do que anteriormente. E torna-se impossível reter tudo dentro desse corpo costumeiro, muito menos dentro da minha cabeça confusa. Pode parecer semelhante, mas igual, nunca. A angústia não é a mesma, a alegria muito menos. Meu ponto de vista se modifica, meu coração se aprofunda, minha cabeça se perde. E tudo o que posso fazer, é escrever, minha única escapatória. Meu alívio contínuo, meu calmante. Pode parecer tudo balela, mas não é. Talvez não para você, mas pra mim funciona, e muito. Por isso, não pense que sou repetitiva, alguém que fala sem sentir. Isso, nunca. Mas não tenho muitas alternativas, não sei realmente dizer certas coisas. Esconder entre palavras rebuscadas meus sentimentos confusos se tornou bem cômodo.

Um vício

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Aquela situação em que percebemos que o que tanto gostávamos já não nos faz mais nem um pouquinho de bem, que nos mata aos poucos, lentamente, fazendo questão de que sintamos toda a dor da tortura intensamente. E você sequer sentia no começo. Mas de repente você não só sente, mas isso te preenche de forma inacreditável, vira a razão de sua existência. E que existência. Nunca havia de longe vivido dignamente. E você logo se pergunta como pôde passar tanto tempo sem aquilo. Familiar não é? Mas logo o fogo que te aquecia perde total controle e queima. Mas também, era de se esperar não? Sempre foi perigoso brincar com o fogo. E dói, como dói. Sempre menosprezou o que todos diziam sobre este tal fogo queimar. Afinal, só se queima quem não sabe lidar não é? Mas ele é traiçoeiro. E ele não cessa. E ninguém realmente sabe como pará-lo. Talvez não tenhamos escolha, nada mais do que bem feito, avisados previamente nós fomos não é? Mas quem disse que queremos pará-lo? Subitamente percebe que é melhor viver no meio de dolorosas chamas do que viver no frio. Será? Pobres criaturas somos, temos medo demais de voltar para o seguro frio, preferimos ser torturados nas chamas até que ela por si só finde com a nossa felicidade.

Palavras de alguém

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E hoje meu amor, não se preocupe.
Esta noite eu estou aqui ao seu lado.
E esta é mais uma noite que você deveria saber que você pode se escorar no meu ombro e deixar todas as lágrimas correrem.
E você não precisa sair daqui se não quiser. Eu não vou a lugar algum.
E os meus braços estão aqui para você se aconchegar.
E o meu corpo está aqui para te fazer esquecer a dor.
E eu vou secar as suas lágrimas se possível, não importa o sacrifício.
E eu fico se você ficar. E eu vou a onde você for.
E eu partirei se você partir.
E se você se afogar na tristeza, eu te darei todo o ar que resta em meus pulmões.
E se o caminhar pela noite fria e escura for congelante, eu te darei todo o calor que resta em meu corpo.
E se a melodia que embala a sua alma acabar, eu tocarei para você.
E se não lhe restar mais vida, eu te dou a minha.
Porque esta noite amor, como todas as outras noites...
Tudo o que me importa é você.
Então meu amor, não se preocupe.
Eu sempre estarei ao seu lado.
Para sempre.
E não me importa realmente saber que não é recíproco.
Não preciso de um porto seguro.
Não preciso de alguém que se preocupe comigo.
Saber que você sorri é o que me basta para viver.

Os resquícios de uma alma

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O desespero é tanto que já alcançou à calma. Uma estranha tranqüilidade, que em poucas vezes na minha existência vi ocupando meu coração. A desilusão com a vida que criei e comigo mesma é tanta que nem me preocupo mais. Pra que perder meu tempo? Não canso de provar que sou imutável nesse aspecto. Aprender com os meus erros provou-se impossível pra mim, pessoa desequilibrada e mal agradecida. Não sei se posso dizer que é desde sempre. Acho que não. Mas já há muito tempo sou quem sou, não sei como e nem por que. Um alguém que é tolo e sofre, mas só sofre porque merece. Desistir de mim é o que eu faço de melhor hoje, pelo visto fui à última a achar que tudo podia ser diferente. Realisticamente analisando, bom, não vai ser. Esta última decisão consciente de meu ser provavelmente é a única certa.
E já quase nem sinto mais. Amor provou-se irreal, idealista. Tristeza? Ainda resta um pouco, vem junto do remorso pela dor que causei aos outros. Vergonha também. Mas estas emoções misturadas com a minha decepção provaram-se o meu pior veneno, que me consome aos poucos. Mais cedo ou mais tarde tudo estará acabado. Já estou quase que totalmente vazia por dentro, não encontro nem mais forças para derramar uma última lágrima.
O que me resta é viver esses poucos momentos aqui e ali, com pessoas que logo também irão me ver realmente e desistir de mim. Tudo porque sou egoísta e covarde para acabar com isso antes. Mas quem sabe um último momento de lucidez me ajude a fazer o que devo e dar logo um fim para isso.

Despertar

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É horrível acordar para a realidade e ver que todas as vidas têm complicações, sem nenhuma exceção, nenhum lugar onde nós possamos olhar e tirar a conclusão de que tudo irá mudar, tudo irá melhorar, que é só uma questão de tempo.
É horrível crescer e perceber que a felicidade não passou de uma invenção dos contos de fada que liam pra gente para podermos dormir tranqüilos, achando que o mundo é um lugar lindo, e que as coisas no final dão sempre certo apesar de todas as dificuldades. Mas pensando bem, o que teríamos feito sem esperança?
Às vezes queria voltar a dormir e sonhar. Como antes. Viver no meu mundo. E quem sabe não acordar mais para este.