Nunca fui uma pessoa que procura por alguém, ou que reparava nas pessoas mais que o necessário, mesmo porque ninguém nunca chegou a me chamar a atenção. Nunca fui de acreditar nessa história fantasiosa de amor à primeira vista. Bobagem ao meu ver, invenção de escritores que perdem tempo iludindo pobres criaturas que derretem-se com a ideia da existência de alguém ideal para cada um de nós. Nunca acreditei também nesse amor exagerado promovido por poetas e cineastas. Nem sei se acreditava nesse sentimento para falar a verdade.
Vivia minha vida tranquilamente, no meu canto, sem me destacar mas sem ser alguém que passa totalmente despercebida pela vida. Só seguia minha rotina, sem grandes mudanças. Até aquele dia. Ele veio até o meu encontro, nada de demais, para conversar como fazíamos às vezes. Mas aquele dia pude vê-lo de verdade. Já não era o mesmo garoto que conheci antes. Era mais alto que eu agora.Os ombros eram mais largos e já não tinha mais o corpo magro e fino de criança. Os cabelos negros já não eram desgrenhados, só de olhar podia-se notar o quão macios eram. Os olhos azuis estavam mais brilhantes e revelavam a doçura de sua alma. As palavras pronunciadas pela sua boca já não eram mais bobagens imaturas. E aquele dia eu me perdi em meio a tantas mudanças que haviam me passado despercebidas, me perdi nele. Me pergunto até hoje como pude ser tão cega por tanto tempo. Ele sempre esteve ali, na porta ao lado. De repente os dias que eu não o via tornavam-se sem graça, apesar de eu não estar fazendo nada diferente. De repente, sem nenhum aviso lá estava eu, envolta dentro de uma sensação totalmente nova e desconhecida para mim, que me assustava mas que me fazia ficar tão encantada por uma pessoa. Então pude perceber que não tudo, mas parte do que nos mostram por aí é realmente verdade.