Os resquícios de uma alma

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O desespero é tanto que já alcançou à calma. Uma estranha tranqüilidade, que em poucas vezes na minha existência vi ocupando meu coração. A desilusão com a vida que criei e comigo mesma é tanta que nem me preocupo mais. Pra que perder meu tempo? Não canso de provar que sou imutável nesse aspecto. Aprender com os meus erros provou-se impossível pra mim, pessoa desequilibrada e mal agradecida. Não sei se posso dizer que é desde sempre. Acho que não. Mas já há muito tempo sou quem sou, não sei como e nem por que. Um alguém que é tolo e sofre, mas só sofre porque merece. Desistir de mim é o que eu faço de melhor hoje, pelo visto fui à última a achar que tudo podia ser diferente. Realisticamente analisando, bom, não vai ser. Esta última decisão consciente de meu ser provavelmente é a única certa.
E já quase nem sinto mais. Amor provou-se irreal, idealista. Tristeza? Ainda resta um pouco, vem junto do remorso pela dor que causei aos outros. Vergonha também. Mas estas emoções misturadas com a minha decepção provaram-se o meu pior veneno, que me consome aos poucos. Mais cedo ou mais tarde tudo estará acabado. Já estou quase que totalmente vazia por dentro, não encontro nem mais forças para derramar uma última lágrima.
O que me resta é viver esses poucos momentos aqui e ali, com pessoas que logo também irão me ver realmente e desistir de mim. Tudo porque sou egoísta e covarde para acabar com isso antes. Mas quem sabe um último momento de lucidez me ajude a fazer o que devo e dar logo um fim para isso.

Despertar

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É horrível acordar para a realidade e ver que todas as vidas têm complicações, sem nenhuma exceção, nenhum lugar onde nós possamos olhar e tirar a conclusão de que tudo irá mudar, tudo irá melhorar, que é só uma questão de tempo.
É horrível crescer e perceber que a felicidade não passou de uma invenção dos contos de fada que liam pra gente para podermos dormir tranqüilos, achando que o mundo é um lugar lindo, e que as coisas no final dão sempre certo apesar de todas as dificuldades. Mas pensando bem, o que teríamos feito sem esperança?
Às vezes queria voltar a dormir e sonhar. Como antes. Viver no meu mundo. E quem sabe não acordar mais para este.